sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MEMÓRIAS DE UM FUNERAL

Funeral não é um dos meus temas favoritos. No entanto, revisitando fatos do meu passado, em conversa com uma grande amiga, quando ela relatava suas experiências funerárias, percebi que os funerais que fui eram bem diferentes.
Os funerais da minha família alargada, ou seja, daqueles que se foram por parte de pai e mãe, podem ser classificados como cerimoniais atípicos.
Vou explicar o motivo. Inicialmente tudo segue o ritmo certo do troço: chegar, cumprimentar a família, reverenciar o defunto etc.. Depois disso é só alegria! Rever aqueles parentes que você não via há séculos, dar uma checada em quem entrou no bisturi e em quem precisa entrar urgentemente, lembrar de fatos bizarros da infância, se gabar disso ou daquilo, esconder os podres e se fazer de desentendido quando te dão uma alfinetada sobre algum mau passo que você deu e achava que sua mãe não tinha contado para ninguém!
O funeral da minha falecida avó Eleonora foi marcante em minha vida. Primeiro por que ela em vida, deixou bem claro que queria ser enterrada ao lado do seu falecido marido. Até aí tudo bem, se ela não estivesse a uma distância aproximada de 600 quilômetros dele!
Meu pai, coitado, deve que dar um jeito em tudo: arrumar um jatinho para levar o defunto até a cidade, alugar um ônibus para levar a parentada etc.. Esse episódio já é hilário, pois enquanto a defunta (sorry vó) ia voando a muitas milhas por hora, nós íamos de busão comendo poeira debaixo de um sol escaldante sem direito a ar condicionado!
E por ser uma longa viagem, que durou cerca seis horas, a tristeza imperou somente durante a primeira hora, depois um primo que não via há muito tempo começou a animar a galera.
Na verdade, esse primo, que sempre foi um porra louca na vida e quem meu pai teve que resgatar várias vezes da cadeia devido ao uso de entorpecentes, ficou muito animadinho ao me ver do alto dos meus treze aninhos, já que a última vez que ele me viu, tinha apenas sete.
Em nenhum momento disfarçou seu interesse pela minha pessoa, ou melhor , na corpo de uma ninfeta de treze aninhos, pois a alma de um ser dessa idade é quase desprezível – hoje, uma balzaquiana, posso falar, deitar e rolar do ser acéfalo que fui na adolescência!
Na viagem foram horas de chaveco, risos e graças, cujos detalhes não me lembro mais, ainda bem!
Já na cidade, no velório, mais momentos tristes. Despedir-se para sempre não é nada fácil, especialmente para os filhos e netos mais chegados o que não era o meu caso. Sempre tive um talento muito grande em não me envolver profundamente com as pessoas...
Depois de um certo tempo, sanduíches, café, mais café e sanduíches e muita conversa fiada: um dizendo pro outro aquilo que queria que fosse verdade em suas vidas, trocando telefones e fazendo promessas de se rever em um futuro próxima. Promessas vãs e totalmente descumpridas.
No enterro, hora da partida definitiva, tristeza redobrada. Olhares desolados e perdidos. Nessa hora não importa se você era chegado ou não ao defunto, na verdade não importa nem se você conhece o defunto, pois o que nos aguarda está ali, bem diante de nossos olhos...
No retorno, todos já tinham chorado as lágrimas que precisavam, restavam agora mais algumas horas juntos, por que sabíamos que o próximo encontro, seria o último para alguém de nós!

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